Seventh Sign From Heaven estreia em estúdio com garra, seriedade e honestidade

Entre o final dos anos 60 e o início dos 70, os riffs tenebrosos, o baixo ressonante, a bateria estrondosa e o vocal estridente de quatro garotos de Birmingham alimentaram a imaginação de milhares de jovens que vieram depois deles. Esses quatro garotos, ao criarem as primeiras canções do que viria a ser o heavy metal, nem imaginavam que seu legado tomaria tantas formas distintas e fomentaria o sonho de tantas outras pessoas mais de 50 anos depois.

Desde então, o heavy virou power, thrash, symphonic e dentre suas tantas denominações falou sobre cavernas e dragões, anjos e demônios, medo e coragem, mas seu objetivo ainda continua sendo o mesmo: registrar a verdade daqueles que o seguem criando e reinventando em canções que carregarão suas palavras para a posteridade.

Uma das principais virtudes de quem compõe é a capacidade de transmitir honestidade na sua música, pois cada canção carregará em si um fragmento da alma de quem a criou. Independente da temática, da sonoridade ou da mensagem transmitida, a música é um artefato absolutamente espiritual e carrega consigo reflexos da personalidade, do caráter e das crenças de quem ousa transformar tudo isso em composições.

Sem a pretensão de reinventar um gênero que já teve suas possibilidades exploradas à exaustão, a Seventh Sign From Heaven, formada em Picos, no Piauí, em 2016, bebeu da fonte de suas principais influências, buscando elementos em bandas e gêneros distintos para chegar em uma sonoridade honesta e bem executada, compatível e coerente com a verdade que desejava transmitir em suas canções e foi à estúdio registrá-las em seu álbum de estreia, The Woman and the Dragon, gravado pelo experiente músico e produtor Thiago Bianchi, no Estúdio Fusão. A capa e o encarte ficaram a cargo dos também experientes Marcus Lorenzet Carlos Fides.

O disco conta com dez músicas distribuídas em pouco mais de 40 minutos e nos apresenta à uma banda com muita garra, seriedade e honestidade, em uma gravação de absoluto bom gosto, deixando evidentes as qualidades e particularidades de Mark Neiva (Vocal e Guitarra), Emanuel Lima (Guitarra), Zinha Soares (Baixo) e Filim Nascimento (Bateria).

O pulsar profundo da bateria, os riffs e melodias marcantes e a cozinha contundente da direta e intensa “Stayed in the Dark”, servem como um excelente cartão de visitas para o disco, com suas composições fortes e robustas, refletindo o espírito vigoroso da banda em uma sonoridade que nesta faixa remete aos primeiros discos do Blind Guardian – em especial à faixa “Lost in the Twilight Hall”. O vocalista Mark Neiva conhece os limites do seu alcance vocal e não tenta extrapolá-los em nenhum momento, mantendo uma interpretação sóbria e

determinada. A música ganha força à medida que encaminha para seu fim, o refrão se repete ganhando cada vez mais intensidade, os riffs de Mark e Emanuel vão ficando mais encorpados e o pedal duplo de Filim entregam a música em um ritmo de tirar o fôlego para a sequência em “Rise”.

A segunda faixa, último single liberado antes do lançamento do álbum completo, começa com mais um riff certeiro, uma pegada poderosa de Zinha Soares e Filim Nascimento no baixo e na bateria e com duetos de guitarra e solos muito bem executados, mantendo a energia do disco nas alturas, culminando em um refrão impetuoso, com backing vocals muito bem encaixados, típico de canções desse gênero. A experiência de Thiago Bianchi como produtor claramente contribui para a segurança e a maturidade transmitida pelos músicos em seu debut.

“The Devil Fears Your Name” prossegue o desfile de riffs empolgantes, com Mark deixando claro em cada nota sua paixão pelo metal tradicional e sua reverência aos grandes nomes do gênero que o influenciaram em sua formação como músico. Apesar de todos os músicos manterem-se absolutamente competentes, essa é uma canção com a cara do frontman da banda, que desfila todo seu repertório como compositor e apresenta parte de sua personalidade como um livro aberto em uma letra com uma mensagem muito clara e bem feita.

A faixa que carrega o título do disco, inspirada no capítulo 12 do livro do Apocalipse e na eterna batalha entre o bem e o mal, define o contexto lírico do álbum e funciona como uma divisão entre as canções mais diretas e tradicionais da primeira parte, com as canções mais elaboradas da segunda metade do disco. As guitarras à la Manowar nos riffs e Iron Maiden nas melodias e duetos, o vocal e a letra da música novamente nos brindam com uma aula do mais puro heavy metal, sem deixar de fora nenhum dos elementos que o consagraram, fazendo dessa uma das músicas mais completas do álbum. Apesar disso, nesta canção o destaque fica para a cozinha diversificada e entrosada de Zinha Soares e Filim Nascimento, que se permitem arriscar ainda mais, criando vários climas distintos com suas constantes quebras de ritmo, trazendo maior complexidade e riqueza estrutural para a composição.

A partir desse ponto, o disco sofre uma virada notável, trazendo canções mais elaboradas e complexas. “Judgement of Egypt”, que fala sobre as pragas do Egito e que foi faixa título do EP lançado pela banda em 2017, mistura elementos de thrash e power metal ao som mais tradicional da banda, lembrando o Iced Earth em alguns momentos, até mesmo na linha vocal, com riffs palhetados e boas melodias, especialmente nos duelos travados entre Emanuel Lima e Mark Neiva. Os solos de Mark, são sempre de muito bom gosto e carregados de feeling e nesta faixa, acrescidos de um timbre flamejante, criam um clima tenso e envolvente.

A balada “Pain In Your Eyes”, com sua pegada remetendo à “Free Bird” do Lynyrd Skynyrd e “Silent Man” do Dream Theater, aborda o suicídio de maneira muito sutil e sentimental e é carregada de boas intenções, com uma bela interpretação do vocalista e dos backing vocals, criando uma linha melódica muito bonita, mas ofuscada pelo timbre de violão que “sobra” um pouco, tornando-a levemente morosa, passando um pouco despercebida na audição, especialmente por anteceder a poderosa “The Fall of Babylon (Revelations 19)”, detentora de algumas das melhores melodias e riffs do disco e de um excelente arranjo operístico, que somado a trechos instrumentais mais cadenciados, criam o clima soturno e épico da primeira parte da música. A quebra ao meio da canção altera totalmente seu andamento, que aos brados de “Hallelujah”, ganha velocidade e peso, que transbordam em uma energia vibrante.

A canção mais longa do disco, “Paid on the Cross”, também possui dois momentos bastante distintos, ambos de muito bom gosto, que se alternam e se conversam em uma composição muito inteligente e com influências claras de Megadeth. A primeira parte passa por “A Tout Le Monde” com um belíssimo dedilhado, um soladinho lamurioso da guitarra e uma bela e introspectiva interpretação de Mark Neiva. A segunda parte bebe de “Blood of the Heroes”, com riffs encorpados, muito bem cadenciados e mais um excelente solo de guitarra.

“The Return”, também presente no EP de estreia da banda, ganhou uma roupagem mais moderna e com suas melodias e refrão grudentos, fica imediatamente na memória e já na primeira repetição do refrão o ouvinte se pega cantarolando a mensagem positiva “However, However, I Will Win”, mas que no decorrer da canção acaba tornando-se um pouco repetitiva.

O disco encerra com a dramática e épica “Holy”, com seus arranjos grandiosos, divididos em três grandes atos: um acústico, um totalmente metálico e um operístico. A primeira parte, conduzida por voz e violão, transmite toda a desolação das incertezas da vida sobre quem somos, onde estamos e qual o nosso real propósito. A quebra para parte mais pesada é estrondosa e metallica, com uma pegada à la “Creeping Death”, que passa a ser conduzida por riffs cavalgados e melodias de uma profundidade avassaladora. Aos poucos, os coros são introduzidos, carregados de um clima majestoso, que lentamente vão conduzindo a canção rumo aos céus, entregando a música a uma infinitude altiva, encerrando o disco de maneira esperançosa e vitoriosa.

“The Woman and the Dragon” já está disponível em todas as principais plataformas de streaming e irá agradar em cheio aos fãs das vertentes mais tradicionais do heavy metal, mas merece a atenção de qualquer apreciador da música pesada e apoiador do metal nacional.

Nota Luis Fernando Ribeiro: 7,4
Nota Leandro Abrantes: 7,8

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