Resenha – “The Plague”, New Democracy (2022)

Ouvimos com exclusividade o novo álbum da New Democracy, “The Plague”, e contamos aqui as nossas impressões a respeito deste álbum incrível

Dos faraós as pirâmides, dos desertos escaldantes ao vasto panteão mitológico, quando pensamos na civilização egípcia, é comum vir à memória toda a mística e o mistério envoltos nessa cultura milenar que até hoje desperta a curiosidade de estudiosos e simpatizantes, exercendo forte influência na cultura ocidental, sendo temática recorrente das mais diversas formas de arte, do cinema a literatura, das artes plásticas a música.

No Heavy Metal, amplamente reconhecido por explorar temas de cunho histórico e mitológico em suas criações, a influência da cultura egípcia está presente desde a obra das bandas clássicas, como o Iron Maiden, com o álbum “Powerslave”, até o metal extremo do Nile, cada qual abordando o assunto sob sua própria ótica e forma de expressão.

Entusiastas confessos dessa riquíssima cultura, os mineiros da New Democracy trazem em seu novo álbum, “The Plague”, que será lançado nesta sexta-feira, 12 de Agosto de 2022, uma proposta cunhada nos recônditos mais sombrios da civilização egípcia, refletindo diretamente na abordagem de suas composições carregadas do peso e da letalidade do Death Metal, somadas ao feeling e a grandiosidade das melodias e arranjos do Heavy e do Melodic Metal, resultando em uma obra conceitual para ser apreciada em sua totalidade, com atenção a toda a gama de detalhes e com o cuidado que a banda teve em apresentar um trabalho memorável para seus novos e antigos fãs.

A New Democracy foi formada em 2012, na cidade de Varginha, Minas Gerais, com a proposta de criar músicas autorais e transmitir sua mensagem através de uma sonoridade ao mesmo tempo agressiva e melodiosa através de dobras de guitarras e melodias dissonantes, baixo casado e pesado e uma batera que oscila entre a velocidade e o groove. Suas principais influências são bem distintas e guiam o direcionamento da New Democracy, passando por bandas bandas como Pantera, Black Label Society, Carcass, Death, Gojira, Lamb Of God, Children Of Bodom, Behemoth, Dimmu Borgir, assim como bandas de Metal Melódico, como Helloween, Kamelot, Angra, entre outras.

Fazem parte da atual formação da banda o vocalista e guitarrista Rafael Lourenço, o guitarrista Mozart Santos, o baixista Wellington Rodrigues, que também faz os vocais de apoio, o tecladista Vinícius Borges e o baterista Alexandre Madeira.

Além de “The Plague”, sua discografia compreende dois EPs, “A New Conception For You To Meet” (2014) e “Disgrace To The Family” (2017), gravados de maneira independente, e o álbum “Death Possession”, de 2019, que foi acompanhado pelo Lyric Video de “Brutal Disgrace” e pelo videoclipe de “Killing In The Name Of God”.

Tivemos a honra de ouvir o novo disco da New Democracy antes de sua estreia mundial e compartilharemos aqui nossas impressões e expectativas sobre “The Plague”, o tão aguardado segundo álbum completo de estúdio da banda.

A denominação da introdução do álbum não poderia ter um desígnio mais acertado. “Gate To The Past” nos conduz de maneira sutil e enigmática para uma viagem misteriosa e sombria através do passado, como um portão que se abre rumo ao desconhecido, tendo apenas a música da New Democracy como guia, que funciona como uma chama em meio a uma escuridão palpável de sussurros e segredos a serem explorados. O convite a imergir no álbum é irrecusável.

“The Plague”, a faixa responsável por carregar o título do disco, vai se desvendando gradativamente, construindo um clima de tensão de um inimigo invisível e iminente à espreita, que se revela como uma praga mortal, ao som de uma banda avassaladora, onde arranjos grandiosos se fundem ao peso e a contemporaneidade do Metal resultam em uma faixa de abertura epopeica, elevando as expectativas e nos colocando de imediato diante do trabalho que melhor define o passado, o presente e o futuro da New Democracy. Sabemos logo na primeira música que estamos ouvindo o melhor trabalho da banda e que o que ouviremos aqui colocará a banda em outro patamar artístico e profissional.

“Creation of My Sin” já havia sido lançada anteriormente como single e carrega ainda mais elementos da cultura egípcia em sua composição, com uma cítara acompanhando os riffs apoteóticos de Rafael e Mozart, a cozinha intrincada e precisa de Wellington e Alexandre, acobertados pelos arranjos sempre grandiosos de Vinícius.

É difícil situar o leitor apenas com palavras, mas como essa música já está disponível antes mesmo do álbum, te convidamos a ouvi-la e compartilhar dos sentimentos que os vários climas e camadas da composição transmitem, transitando naturalmente entre o peso do metal extremo e a sensibilidade de arranjos muito bem pensados e cheios de propósito, culminando em um solo belíssimo, que te deixa completamente absorto e atônito. “Creation of My Sin” já nasceu um clássico da New Democracy.

A sequência com “Morning Star” inicia com passagens orquestradas em um trabalho fantástico do tecladista Vinícius Borges que, acompanhado da interpretação soturna de Rafael Lourenço, criam um clima absolutamente cinematográfico, que logo se funde ao peso estonteante do Death Metal da banda, soando como um despertar vertiginoso e atordoante. Neste ponto do álbum faz-se importante destacar um fator que será cada vez mais notável no decorrer das músicas seguintes:

A New Democracy é uma banda que tem suas origens e sua identidade baseadas no Death Metal Melódico, mas isso de forma alguma prende os músicos às amarras de um rótulo, se permitindo utilizar de todos os elementos artísticos que forem necessários para transmitir sua mensagem e expressar sua obra da maneira mais verdadeira e poderosa possível, algo muito similar ao que o Sepultura vem fazendo em seus álbuns mais recentes, especialmente no “Quadra”.

“Dust” é a balada do disco e conta com a participação especialíssima do vocalista Raphael Dantas, da banda de Modern Power Metal, Ego Absence, dando uma perspectiva completamente nova para a música da New Democracy, e somando ainda mais a grandiosidade e liberdade artística da banda. Toda sua construção se dá a partir das linhas melódicas da belíssima voz de Raphael sobre uma base dramática e tocante criada com violão, baixo, piano e percussão. “Dust” destoa completamente do restante da obra e nisso reside uma de suas maiores virtudes.

Em “Blood on Nile”, por sua vez, vale destacar a riqueza da interpretação vocal de Rafael Lourenço que, guardadas as devidas proporções, criam os climas teatrais que as músicas demandam, dignas de King Diamond, ainda que com uma proposta completamente diferente. Lourenço vai do vocal rasgado, ao limpo e ao gutural com uma facilidade assustadora, dando vida aos personagens do nosso imaginário, enquanto vamos compreendendo a proposta e o propósito de cada passagem em cada canção.

Existem, é claro, destaques individuais para todos os músicos em vários momentos de todo o álbum, mas o coletivo se sobressai sempre, consolidando o entrosamento da formação atual da banda e a maturidade de sua obra, como podemos observar nas dobras de guitarras, nas camadas de teclado e na cozinha absurdamente técnica e elaborada, todos se complementando e dividindo protagonismo de uma forma muito verdadeira e inteligente.

As passagens mais cadenciadas ao final de “Blood on Nile” fazem a ponte perfeita para “Final Touch”, que começa com um riff que vai quase no Doom Metal buscar suas referências, reforçando a ideia de que o mais importante para a banda é o produto final da sua música e não os preceitos do gênero musical onde ela está inserida.

Novamente, os arranjos dão ares épicos a canção, mas seu direcionamento muda repentinamente – o tempo todo, por sinal – indo da fúria devastadora do Death Metal ao senso melódico e virtuoso do Metal Progressivo, remetendo ao que o Torture Squad fez no clássico “Hellbound”. A cadência da canção é carregada de um sofrimento quase tangível e de um clima que a todo momento nos faz sentir próximos de um fim iminente. Nesta canção a banda conta com a participação especial do tecladista Leo Godde, que também participa da faixa “Black Blood”.

“The Way We Die” é uma verdadeira aula de riffs (E que música desse álbum não é?!) e dialoga com o Brutal Death Metal e com o Black Metal Sinfônico, mostrando toda a versatilidade dos músicos, mas também a regularidade das composições, que não baixam o nível em nenhum momento do álbum. Sua atmosfera cria uma sensação de desespero, fortalecida por poderosos blast-beats de Alexandre Madeira e pela interpretação magnífica de Guilherme de Siervi, que empresta sua voz poderosa ao refrão desta canção, tornando-a ainda mais marcante e envolvente.

O álbum encerra com “Black Blood”, com alguns dos riffs mais bangeantes e empolgantes do álbum, ainda que envoltos por uma aura mística e misteriosa. Novamente, é impressionante como a banda consegue flertar com outros gêneros dentro do Metal mantendo sua identidade intacta, uma virtude da qual poucos artistas dispõe.

Por fim, vale destacar que mesmo com a perícia e a experiência dos músicos da New Democracy, o resultado final desta obra deve-se a soma do trabalho da banda e de outros profissionais competentíssimos, que juntos de Rafael, Mozart, Wellington, Vinícius e Alexandre, fazem de “The Plague” um dos melhores álbuns que ouvimos nos últimos anos, são eles, o produtor Tim Alan Wagner, do Studio Rock, Thiago Okamura, responsável pela mixagem e masterização do disco, além da fotógrafa Breenda Rabello, responsável pelos belíssimos registros da banda, e do artista Wagner Sales, que fez a imponente e incrível arte do álbum.

E aí, ficou curioso? Então não deixe de ouvir “The Plague”, que estreia na madrugada desta quinta para sexta-feira, 11 para 12 de Agosto, exatamente a meia noite.

Track list:

01 – Gate To The Past (Intro)
02 – The Plague
03 – Creation Of My Sin
04 – Morning Star
05 – Dust (Ft. Raphael Dantas)
06 – Blood On Nile (Ft. Leo Godde)
07 – Final Touch
08 – The Way We Die (Ft. Guilherme de Siervi)
09 – Black Blood (Ft. Leo Godde)

Siga a New Democracy no Facebook e no Instagram. Ouça os lançamentos anteriores da banda abaixo:

Leia mais sobre a New Democracy no site da Hell Yeah:

Hatefulmurder, New Democracy, Versteckt, Vulcane e Jesterhead, 20 de Agosto, em Varginha-MG

Conheça a New Democracy, banda mineira de Death Metal Melódico

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