Os últimos dois anos tem sido um período absolutamente atípico e bastante desgastante para a maior parte das pessoas e para o mercado como um todo, mas é inegável que o cenário musical foi um dos mais duramente impactados pela pandemia que vivemos desde o primeiro trimestre de 2020. Desde o final de 2021, no entanto, especialmente com a chegada da vacina, pudemos observar com alguma esperança um movimento de retomada dos shows e de renovação das expectativas para o que aconteceria em 2022.
Pois bem, 2022 chegou e novas perspectivas e possibilidades começam aos poucos a tomar forma. Quisemos saber como isso está sendo visto pelos artistas, então convidamos alguns músicos do Cast da Hell Yeah Music Company para dividir suas expectativas, anseios e experiências conosco, além de suas visões acerca do momento que vivemos. Confira abaixo o que esperam de 2022 os músicos Bruno Maia (Braia, Tuatha de Danann), Mark Neiva (Seventh Sign From Heaven), Pedro Scheid (Vocifer), Guto Gabrelon (Ego Absence) e Karina Menascé (Allen Key).
Bruno Maia é um músico, compositor e multi instrumentista mineiro conhecido por seu trabalho com o Braia e com o Tuatha de Danann, bandas com as quais lançou alguns dos principais clássicos da Música Folk no Brasil.
Perguntamos ao Bruno o que ele espera do ano de 2022 para o cenário musical.
O que eu espero para 2022 é que haja uma primavera musical, onde a música viva uma experiência de reflorescimento, de brotar e frutificar novamente e que ela possa voltar a circular em um de seus ambientes mais agradáveis e intensos, que são os palcos e a experiência ao vivo, que eu acredito ser uma das facetas mais poderosas da vivência musical. Todos nós gostamos de ouvir nossas músicas favoritas em casa, no carro, no computador, mas a experiência da música ao vivo, da troca de energia que envolve uma apresentação musical, um concerto, um show, é uma coisa que o mundo inteiro está sentindo muita falta. Eu acho que quando voltar tudo ao normal, que vai ser em 2022, vai acontecer com uma força muito grande, vai vir realmente como uma nova primavera pra música.
Mark Neiva é vocalista, guitarrista, compositor e líder da banda de Heavy/Power Metal piauiense, Seventh Sign From Heaven, com quem lançou em 2020 o álbum “The Woman and the Dragon“.
Mark, você acredita que as bandas irão tirar algum ensinamento deste período tão difícil que passamos nos últimos dois anos?
Eu acredito que vários ensinamentos podem ser extraídos desse período difícil, inclusive, a própria Seventh Sign From Heaven lançou seu álbum de estreia dia 13 de Julho de 2020, poucos meses após o início da pandemia, e nós aprendemos muitas lições com esse momento. Em primeiro lugar, o público ainda está lá, consumindo sua música à sua maneira, mas você tem menos acesso a ele na execução da sua música ao vivo, mesmo com as lives. Tivemos que reaprender a estar próximos de quem gosta do nosso som de outras formas, especialmente de maneira online, e nós aprendemos muito com isso tudo. Existiu também um nivelamento de todas as bandas, pois ninguém mais pôde tocar ao vivo, e cada um foi fazendo o que podia e aprendendo novas maneiras de se manter ativo.
Ainda existe muita incerteza sobre os shows e turnês, então o maior ensinamento a ser tirado desse período foi sobre reforçar a valorização do contato com o público e se reinventar dentro do mercado. Foi um período para aprendermos a ser menos competitivos entre as bandas e buscar alternativas para que todos se fortaleçam juntos para poder sobreviver, então eu acredito que as bandas puderam se unir mais, parar para entender melhor o mercado e como ele funciona e como utilizar a internet a seu favor. Para nós da Seventh foi tudo muito desafiador, mas já estamos de olho no futuro com grandes expectativas nesse novo momento que estamos vivendo.
Pedro Scheid é guitarrista e compositor da banda tocantinense de Power Metal, Vocifer, com quem já gravou o álbum “Boiuna” e um segundo disco, em processo final de produção.
Perguntamos ao Pedro se ele se sente melhor preparado para os palcos neste momento do que antes da pandemia.
Essa pergunta depende um pouco do contexto de cada pessoa e de cada banda e eu acredito que o meu contexto com a Vocifer seja bem específico, pois antes da pandemia nós estávamos muito bem preparados para os shows. Nós recém havíamos lançado nosso primeiro álbum, “Boiuna“, em Janeiro de 2020, e estávamos nos preparando para a divulgação deste álbum através de shows, então nós já estávamos em um período de quatro meses de preparação para os palcos e chegamos a fazer o show de lançamento do disco no dia 14 de Março de 2020, mas no dia 15 foi decretado lockdown na nossa cidade, dando um banho de água fria em toda a banda, na nossa preparação, nos fazendo perder completamente a motivação e as esperanças, ficamos completamente perdidos, sem saber o que fazer, e toda nossa preparação se perdeu. Depois de um longo período de reflexão, nós fomos focar em outras coisas e a pandemia, apesar de tudo de ruim que aconteceu, foi um tempo que nos permitiu crescer individualmente como pessoas e músicos, pois todos tivemos um tempo a sós, e eu procurei desenvolver novas habilidades, novas técnicas, aprendi e estudei coisas novas e então minha banda decidiu escrever um novo álbum. Com isso adquirimos nova motivação, aí veio a vacina e renovou ainda mais as esperanças, as casas de shows começaram a abrir as portas e os eventos começaram a voltar aos poucos. Logicamente que a pandemia não acabou, mas agora temos uma perspectiva de que ela acabe e que voltemos a uma relativa normalidade, e aí, quando as oportunidades voltarem a surgir realmente, já estaremos com um novo álbum pronto. Apesar de neste exato momento não estarmos totalmente preparados para fazer um show, já temos motivação e esperança de sobra, além de um cronograma para nos prepararmos pra esse retorno. Agora com esse ciclo em término da pandemia avançando, eu me considero mais preparado para voltar a tocar, principalmente por ter desenvolvido novas técnicas e ter crescido como músico e também por estar com esse desejo engasgado de tocar. Agora temos dois discos pra divulgar, então com certeza isso é motivo de sobra para eu e minha banda darmos tudo de nós nesse retorno.
Guto Gabrelon é guitarrista e compositor da banda paulista de Modern Power Metal, Ego Absence, com quem já lançou o álbum “Serpent’s Tongue“.
Já tendo a oportunidade de fazer a reestreia com sua banda nos palcos neste esperado final de ciclo da pandemia, perguntamos ao Guto sobre o que ele pensa caso em 2022 as coisas não voltarem exatamente para o ponto onde esperamos que voltem e como fazer para que a banda ou o artista mantenham-se ativos e criando algo relevante.
A maior atividade de qualquer banda é o show, e também a melhor, com certeza, pois é onde a banda tem o contato direto e o feedback imediato do seu público. É totalmente diferente você estar ali em cima do palco tocando e observando a resposta do público na hora, então essa é a principal atividade da banda e aí, com a pandemia, se tudo isso também não for possível no ano de 2022, as coisas ficam realmente difíceis pra quem é músico. Durante a pandemia aprendemos a ter uma presença e proximidade com os fãs através da internet e isso precisa ter continuidade mesmo com uma normalização dos shows. É importante então continuar produzindo, lançando singles, álbuns, videoclipes, lives. É claro que tudo isso envolve uma estrutura e muitos não dispõe de grandes recursos para seguir produzindo, então fica bem mais complicado, mas é uma saída para continuar ativo em meio a essa dificuldade. Mas a gente espera que não seja preciso continuar passando por isso. Uma banda estar ativa é sinônimo de estar na estrada, estar tocando e trocando experiência com o público e espero que isso que eu falei seja apenas hipotético e que não precisemos passar por isso por mais um ano.
Karina Menascé é a vocalista, compositora e multi instrumentista a frente da banda Allen Key, com quem lançou seu álbum de estreia, “The Last Rhino“, no final de 2021.
Karina, que mensagem você deixaria para alguém que vive da música e precisa renovar suas esperanças para que 2022 seja um ano melhor?
Se a pessoa passou 2020, 2021 e ainda quer se manter fazendo música em 2022 ela precisa de mais bom gosto pra escolher a profissão (Risos). Foram anos muito difíceis, eu mesma considero 2021 mais difícil que 2020, pois todo mundo teve que voltar a produzir e trabalhar de uma maneira completamente nova, então tudo precisa de muito planejamento e também muito, mas muito investimento financeiro. Não é fácil. A pessoa precisa pensar bem o que ela quer como músico, qual mercado ela quer seguir, nacional ou internacional, prestar muita atenção no gênero onde ela pretende se inserir e como irá se vender para seu público. Mas música é paixão e, acima de tudo, devemos continuar fazendo o que sabemos fazer da melhor forma possível.