Dungeons & Dragons: 5 músicas no Heavy Metal inspiradas pelo universo do RPG mais popular da história

Como o universo de Dungeons & Dragons inspirou grandes composições do Heavy Metal

Desde sua popularização nos anos 1970, os jogos de RPG de mesa conquistaram milhões de jogadores ao redor do mundo por sua capacidade de unir narrativa, estratégia e imaginação coletiva. Com campanhas cheias de fantasia, personagens marcantes e mundos ricamente construídos, esse tipo de jogo se consolidou como um verdadeiro fenômeno cultural, influenciando não apenas o universo dos games, mas também o cinema, a literatura e, como veremos aqui, a música.

Dentre os títulos mais populares do gênero, Dungeons & Dragons (D&D) tornou-se o mais icônico e influente RPG de mesa já criado. Lançado originalmente em 1974 por Gary Gygax e Dave Arneson, o jogo é ambientado em mundos de fantasia medieval e convida os participantes a assumirem o papel de personagens como guerreiros, magos, clérigos ou ladrões, embarcando em aventuras guiadas por um Mestre de Jogo (Dungeon Master), que atua como narrador e árbitro das regras. Combinando narrativa colaborativa, estratégia, interpretação e resolução de conflitos por meio de dados poliédricos, D&D moldou as bases de inúmeros jogos eletrônicos, livros, filmes e séries que vieram depois.

No universo do Heavy Metal, onde a fantasia e as temáticas épicas frequentemente se entrelaçam, jogar Dungeons & Dragons tornou-se uma prática bastante comum. Assim, as histórias vividas por aventureiros em reinos mágicos e amaldiçoados acabaram por inspirar músicos ao redor do mundo, resultando em composições que capturam a essência das jornadas heroicas, dos confrontos entre o bem e o mal e das emoções que só uma campanha de D&D pode despertar.

Neste artigo, exploramos como Dungeons & Dragons e algumas de suas narrativas mais emblemáticas influenciaram as composições de bandas de Metal ao redor do planeta.

Blind Guardian – “The Soulforged”

“The Soulforged”, faixa do álbum “A Night at the Opera”, lançado em 2002 pelos alemães do Blind Guardian, conta a história de Raistlin Majere, um mago poderoso conhecido por sua inteligência, ambição e moral ambígua, sendo personagem central da série de livros Dragonlance.

Criado nos anos 80 por Margaret Weis e Tracy Hickman, Dragonlance é um dos cenários de campanha mais famosos do universo Dungeons & Dragons. Ambientado no mundo fictício de Krynn, esse universo se destaca por sua rica mitologia e personagens memoráveis. As aventuras em Dragonlance giram em torno da eterna luta entre o bem e o mal, envolvendo deuses, dragões e heróis em batalhas que moldam o destino do mundo.

A letra de “The Soulforged” mergulha profundamente na psique de Raistlin Majere, explorando sua transformação de um jovem frágil e idealista em uma figura sombria, consumida pelo desejo de poder e marcada por sacrifícios emocionais profundos. A dualidade entre a luz e as trevas, tão presente em Dragonlance, é capturada com maestria na canção, que funciona como um monólogo introspectivo do mago.

“For a decent price
I’ve banned kindness from my heart
The spirit of all truth and beauty
Pawned for my desire”

Nightwish – “Wishmaster”

Entre suas múltiplas referências, que vão de O Senhor dos Anéis à contos clássicos, “Wishmaster” – faixa título do terceiro álbum de estúdio da banda finlandesa Nightwish – faz um tributo direto ao universo de Dragonlance, um dos cenários mais icônicos de Dungeons & Dragons.

Essa conexão fica bastante evidente nas menções a personagens como Silvara, a elfa-dragão prateada que guarda profundos laços com a trama dos irmãos Majere e Starbreeze, uma elfa silvestre com ligações com os Silvanesti, povo de origem de Laurana. Além disso, a frase “Meet me at the Inn of Last Home” faz uma clara referência à Estalagem do Último Lar, ponto de partida da saga Crônicas de Dragonlance, onde os heróis se reencontram após anos separados.

A música ainda se aprofunda na essência do arquétipo do mago-aprendiz presente tanto em Dragonlance quanto no imaginário de D&D como um todo. A invocação recorrente de termos como “Master” e “Apprentice” faz referência direta à trajetória de Raistlin Majere, o mago ambicioso que se torna uma das figuras centrais do cenário.

A palavra “Shalafi”, usada por Raistlin para se referir ao seu mestre, Par-Salian, também aparece na letra, junto com Sla-Mori, o túnel secreto sob Pax Tharkas, conhecido apenas por poucos. A canção, portanto, se mostra uma verdadeira homenagem à magia, ao heroísmo e ao conflito interno tão presentes nas histórias da Dragonlance, onde o desejo por poder e a pureza do coração vivem em constante tensão.

“Sla-Mori the one known only by Him
To august realms, the sorcery within
If you hear the call of arcane lore
Your world shall rest on Earth no more
A maiden elf calling with her cunning song
Meet me at the Inn of Last Home
Heartborne will find the way”

Soulspell – “Dungeons and Dragons”

Faixa do álbum “The Second Big Bang” da Metal Opera brasileira, Soulspell, “Dungeons and Dragons” não carece de razões mais obvias para entrar nesta lista do que seu próprio título, mas mereceria estar aqui apesar disso. A música mergulha de forma teatral e dramática no universo de Dungeons & Dragons, destacando os elementos típicos de uma campanha, como monstros, feitiços e traições, mas também explorando as camadas psicológicas e filosóficas por trás do jogo.

Desde a introdução, com a fala do Dungeon Master, interpretado por Fabio Lione, já se estabelece a ideia de que os personagens estão presos em uma espécie de conto sombrio, onde a fantasia não é escapismo, mas uma prisão. O jogo, que deveria ser uma aventura lúdica, transforma-se numa metáfora existencial onde a única certeza é a morte — “in this game there’s just one prize: we all die” — revelando o tom fatalista e reflexivo da narrativa.

A canção também brinca com o conceito de identidade e transformação dentro de uma campanha de Dungeons & Dragons, como mostra a personagem Judith ao admitir ter se tornado exatamente o tipo de pessoa que antes criticava, em uma referência direta às decisões morais que os jogadores enfrentam em suas jornadas. Os versos falam sobre estratégia, sobrevivência e traição, elementos centrais tanto no RPG quanto na condição humana.

A presença de um dragão lendário, que cospe fogo “from smoke and shadows”, reforça a tensão entre o real e o simbólico: o monstro é tão ameaçador quanto as próprias mentiras e medos dos personagens. Ao final, a revelação de que o “bicho-papão” é apenas uma criação mental aprofunda o comentário metafórico da música de fantasia aqui é um espelho do caos interior humano em um jogo onde os heróis enfrentam também os seus próprios fantasmas.

“We all live with fear without exactly knowing why
But in this game there’s just one prize: we all die!
No one above us, are we shadows in the night
Or there’s a pot of gold at the end of line? No!”

Renan Collatto’s Agathos – “Underdark”

“Underdark” foi o segundo single lançado para o disco “The Red Storm Pt. 2” do projeto Renan Collatto’s Agathos, formado por músicos do Brasil e da Itália. A música está ambientada nas profundezas sombrias de Out of The Abyss, uma das aventuras mais populares do cenário de RPG de Dungeons & Dragons, Forgotten Realms.

Out of the Abyss é uma campanha do mundo subterrâneo de Underdark. O cerne da história gira em torno do colapso da realidade no Underdark causado pela presença de demônios lordes como Demogorgon, Juiblex, Zuggtmoy e outros, libertados acidentalmente por um ritual fracassado. Cabe aos aventureiros sobreviver à insanidade crescente, unir facções rivais e, por fim, enfrentar os próprios demônios em uma batalha épica para restaurar o equilíbrio.

Entre sombras ancestrais desses reinos subterrâneos ocultos, a música retrata uma jornada de sobrevivência em meio ao caos, onde forças malignas despertam e o destino do mundo oscila à beira do abismo. A sonoridade densa e dinâmica de “Underdark” traduz a tensão dessa corrida contra o tempo, levando o ouvinte por meio de um turbilhão de atmosferas cinematográficas e batalhas grandiosas.

O disco “The Red Storm Pt. 2” ainda traz referências ao universo de outro RPG muito popular no Brasil. A faixa título do disco, com mais de 30 minutos divididos em 9 capítulos, cria um ambicioso trabalho conceitual inspirado em “O Crânio e o Corvo”, segundo volume da consagrada Trilogia da Tormenta.

“When the evil rises
Terror grips all people’s heart
Down deep lies the secret
The power to tear worlds apart
In the depths of the Underdark”

Visigoth – “Dungeon Master”

“Dungeon Master”, da banda norte-americana de Heavy/Power Metal, Visigoth, é um verdadeiro hino ao universo de Dungeons & Dragons, exaltando o espírito de aventura, os confrontos heroicos e a luta entre a luz e as trevas que permeiam o jogo. Desde os primeiros versos, somos transportados a um mundo fantástico com “horizontes sombrios” e “profecias”, onde guerreiros enfrentam bestas demoníacas e desafios arcanos.

A figura do Dungeon Master aparece como um ser poderoso e sombrio, “mestre do mal” e manipulador dos caminhos que os aventureiros devem percorrer. A música retrata com entusiasmo o equilíbrio entre o risco e a glória, simbolizado pela clássica mecânica de rolar os dados, que define o destino de cada personagem em jogo.

Em seu refrão a banda reforça o papel do Dungeon Master como senhor supremo de um mundo repleto de reinos esquecidos, feitiços mágicos e salões sagrados sob as montanhas. A canção também celebra os próprios aventureiros – guerreiros, feiticeiros e viajantes — que empunham aço e conjuram magias em sua marcha contra as forças do mal. Em um clímax heroico, os versos finais convocam a resistência, a bravura e o espírito de coletividade, com imagens de estandartes erguidos, flechas lançadas e magias iluminando os céus.

“Take a chance, roll the dice
Is this hell or paradise?
In this land of high adventure carve your fate
Forgotten realms, magick spells
Hollowed halls beneath the fells
He’s the master of the evil in deep”

Bônus:

Como bônus, também trazemos uma “referência inversa”, que fez parte de uma edição luxuosa de lançamento de “Verminous”, nono álbum de estúdio da banda norte-americana de Melodic Death Metal, The Black Dahlia Murder. O disco veio acompanhado por uma aventura de 24 páginas intitulada “Depths Of The Drasted: A Verminous Quest”, compatível com a 5ª edição de Dungeon & Dragons, inspirada pelo tema da faixa título e a capa do álbum. O box completo acompanha o livro de regras e história, conjunto de 7 dados, escudo do mestre, mapas, cartas e fichas de personagens. Apenas 500 cópias foram disponibilizadas.

A equipe da Hell Yeah Music Company agradece especialmente a João Luis Rocha Messina e Fernando Cavalli pelo valioso apoio na criação deste conteúdo.

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